Tem vôlei para todo mundo
- Na Rede
- 17 de dez. de 2018
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Por: Ítana Santos

Um esporte praticado em uma quadra com os lados opostos divididos por uma rede. De cada lado seis jogadores dentro das quatro linhas e outros seis no banco. Um time composto por ponteiros, opostos, centrais, levantadores e líbero. A partida é decidida em cinco sets, quem ganhar três leva a vitória. Cada set se encerra quando alguma equipe completar os 25 pontos ou a diferença de dois pontos da pontuação adversária. Somente no quinto set, também chamado de tie-break, que fecha com 15 pontos.
Pelas regras mencionadas esse esporte se assemelha bastante com o vôlei, não deixa de ser, mas com algumas particularidades. Quadra menor que o comum, 10 metros de comprimento por 6 de largura, coma linha de ataque com uma distância de 2 metros do centro. A rede mais curta, 6,50 a 7 metros de comprimento e 0,80 metros de largura, ficando ela a 1,15 metros do chão para os homens e a 1,05 metros para as mulheres. Por fim a maior regra dessa modalidade é que o atleta não pode bater na bola sem estar em contato com o solo. Esse esporte é o vôlei sentado, criado para pessoas que tenham alguma limitação quanto a sua mobilidade, mas que não deixam com que isso impeçam elas de serem grandes atletas.
Os esportes adaptados não possuem relatos sobre eles antes do século XX e sua origem está ligada a Segunda Guerra Mundial. Muitos dos soldados que conseguiram retornar da guerra voltaram com alguma incapacidade – amputados, paraplégicos –, mas nem por isso deixaram de ser vistos como heróis. Tal reconhecimento trouxe também uma melhor visibilidade para aqueles que já eram Portadores de Necessidades Educativas Especiais (PNEEs), ganhando mais respeito e sendo considerados como membros normais da sociedade. Deste modo, em 1994, Dr. Ludwing Guttmann no Centro de Reabilitação do Hospital de Stoke Mandeville, vê nos esportes um ótimo meio de tratamento médico auxiliando na reabilitação motora, social e psicológica. Para a Isabel Montandon, autora mineira do livro “Educação Física e Esportes nas Escolas de 1º e 2º Grau”, integrar os PNEEs, através do esporte, seria a quebra de determinadas barreiras; proporcionando-lhes autonomia, independência e autoconfiança, necessários para a sua vida em sociedade. Quando não há a prática de esportes, a maioria deles tende a se marginalizar, evitando-se expor. É corrente entre eles a ideia errônea de que a ginástica e o esporte lhes são nefastos ou perigosos, ou, no mínimo, que para eles está fora de cogitação a prática de exercícios físicos. Além dos benefícios citados por Montandon em sua obra, a prática esportiva traz uma melhora no condicionamento físico da pessoa, independentemente de ser portadora de necessidades ou não.

História do Vôlei Sentado
O vôlei sentado é uma evolução do sitzball, um esporte alemão que recebeu as regras do voleibol como uma forma de deixar o jogo com um ritmo mais frenético. Desde a oficialização dessa união em 1956 pelo Comitê Alemão de Esportes o voleibol sentado tornou-se um dos esportes mais praticados em competições não só de deficientes na Holanda, mas também por competidores de voleibol não deficientes, mas com lesões no tornozelo e joelho. O primeiro contato desse esporte com as Paraolimpíadas – o maior evento esportivo para deficientes – foi nos jogos de 1976, em Toronto, apenas como jogos de exibição. Somente quatro anos depois, nos jogos de Arnhem, na Holanda, que essa modalidade foi inclusa no programa de competições dos Jogos Paraolímpicos, com participação de sete seleções.
O vôlei paraolímpico até os jogos de Sidney, em 2000, entre sentado e em pé. Só na próxima edição, os jogos de Atenas, em 2004, a disputa passou a ser apenas sentado. Naquele mesmo ano foi a primeira vez que as mulheres competiram.
Características e Classificações
Além das diferenças de regras e estruturas de jogo já apresentadas de início, o vôlei sentado possui algumas outras divergências do vôlei comum, como:
- A equipe deve ter no máximo dois jogadores com “inabilidade mínima”, sendo que somente um pode estar em quadra;
- A posição dos jogadores é determinada e controlada pela posição de seus glúteos, ou seja, a posição das mãos e os pés nos momentos de participação do lance são desconsiderados. Vale também para o momento do saque, em que a prioridade é que o glúteo não toque a área da quadra – o que inclui a linha de fundo;
- É permitido tocar a quadra adversária com os pés ou pernas em qualquer momento do jogo desde que não interfira na jogada;
- Os jogadores podem completar um golpe de ataque do saque do adversário quando a bola estiver na zona de ataque ou completamente acima do topo da rede;
- Os jogadores da linha de frente podem bloquear o saque adversário.
Para manter o nível de limitação das equipes iguais, o vôlei sentado, assim como outros esportes paraolímpicos, conta com uma classificação que influencia na constituição dos times. A classificação segue o seguinte padrão:
AK são os jogadores com amputação acima ou através da articulação do joelho (above knee)
BK quando a amputação é abaixo do joelho, mas através ou acima da articulação tálus-calcanear (below knee)
AE é acima ou através da articulação do cotovelo (above elbow)
BE a amputação é feita abaixo do cotovelo, mas através ou acima da articulação do pulso (below elbow)
ACMIS é a abreviação para amputações combinadas de membros inferiores e superiores
- Classe A1: Duplo AK
- Classe A2: AK Simples
- Classe A3: Duplo BK
- Classe A4: BK Simples
- Classe A5: Duplo AE
- Classe A6: AE Simples
- Classe A7: Duplo BE
- Classe A8: BE Simples
- Classe A9: ACMIS
Na classificação Les Autres se encaixam os atletas que possuem a limitação locomotora, devido a um ataque cardíaco, problemas de medula óssea, paralisia parcial, etc…
Seleção Brasileira
Apenas em 2002 o vôlei sentado passou a ser praticado no Brasil através de um torneio organizado pelo professor Ronaldo Gonçalves de Oliveira que aconteceu em Mogi das Cruzes. No ano seguinte, especificamente no dia 7 de abril de 2003, foi fundada a Confederação Brasileira de Vôlei para Deficientes (CBVD) e posteriormente, ainda em 2003, foi criada a seleção brasileira masculina que já no mesmo ano estreou nas competições internacionais participando dos Jogos Parapan-Americano na cidade de Mar del Plata, na Argentina, e garantindo já de cara a medalha de prata.

A trajetória brasileira nos Parapans-Americano continuou sendo de grandes conquistas nas outras edições. O país já é tricampeão com a conquista da medalha de ouro em 2007, 2011 e 2015, que aconteceram respectivamente no Rio de Janeiro (Brasil), Guadalajara (México) e em Toronto (Canadá).
Nas paraolimpíadas o país nunca chegou a subir no pódio. Em sua primeira participação, nas Paraolimpíadas de Pequim em 2008, terminou em sexto lugar ganhando de times como Japão e Iraque e perdendo para Egito, China e o grande Irã – que é destaque na categoria assim como a Bósnia. A melhor colocação até hoje da nossa seleção foi nos jogos do Rio de Janeiro em 2016, perdendo novamente para o Egito e ficando em quarto lugar.
No Campeonato Mundial de 2014, na Polônia, o Brasil ficou com a medalha de prata. A competição foi um marco histórico para a equipe e a história da seleção até os dias atuais. No caminho, os brasileiros deixaram para trás a Polônia nas oitavas, a Rússia nas quartas e o poderoso Irã na semifinal. O time acabou perdendo na final, por 3 sets a 1, para a Bósnia. O Brasil se tornou a segunda seleção na história a derrotar o Irã e em entrevista a CBVD, Renato Leite, levantador da Seleção Brasileira Paraolímpica de Vôlei comenta: “Nós acabamos com a medalha de prata, mas mostramos para o mundo que o Brasil podia enfrentar todos”.
No mundial desse ano, 2018, na Holanda, o Brasil caiu uma posição. O país perdeu a semifinal para a Bósnia, mas ganhou da Ucrânia garantindo a medalha de bronze. Porém, com essa colocação o time verde e amarelo não se classifica para as Paraolimpíadas de Tóquio em 2020, somente os dois finalistas – Bósnia e Irã – garantiram a vaga. A próxima chance de garantir a vaga é o ano que vem no Parapan em Lima, no Peru.

Quanto a seleção feminina, elas ainda não conquistaram a tão almejada douradinha, mas já trouxeram uma grande marca para o vôlei paraolímpico brasileiro.
As meninas do Brasil só participaram dos Jogos Parapan-Americano em 2003, na cidade Mar del Plata e em 2015, na cidade de Toronto, ficando com a medalha de prata nessas duas participações. Nas edições de 2007 e 2011 o torneio feminino não foi realizado.
Nos mundiais, a equipe ficou em sexto na Polônia e nesse ano, na Holanda, terminaram a competição em quinto. Mas, o grande marco dessa equipe foi no Jogos Paraolímpicos do Rio de Janeiro, em 2016. Elas deram ao Vôlei Sentado do país a primeira medalha paraolímpica, vencendo a Ucrânia por 3 sets a 0 e garantindo a medalha de bronze.
“Conquistar uma medalha de bronze nas Paraolimpíadas do Rio 2016, sendo a primeira da história do país na modalidade (em Jogos Paraolímpicos) foi ver o sonho se tornando realidade”, disse Laiana, jogadora da Seleção Brasileira Feminina à CBVD.

CIE de Uberlândia
Os Centros de Iniciação ao Esporte (CIEs) foram criados durante os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos do Rio de Janeiro, em 2016. A ideia é ampliar a oferta de infraestrutura de equipamentos públicos esportivos qualificados no Brasil a fim de aumentar as chances de se encontrar novos talentos no país. Uma das cidades brasileiras a contar com um dos centros é Uberlândia - MG, cidade da região do Triângulo Mineiro, a primeira cidade fora do estado de São Paulo. O CIE de Uberlândia localiza-se no Jardim Europa e atende atletas em seis modalidades paraolímpicas e crianças de 7 a 17 anos em três esportes olímpicos. O local conta com ginásio coberto (com quadra poliesportiva e espaço para academia), salas, vestiários e banheiros adaptados, arquibancada com 200 assentos, pista de atletismo (tartan) com 100 metros, área para arremessos, pista para saltos e estacionamento. A administração do espaço é responsabilidade da Fundação Uberlandense do Turismo, Esporte e Lazer (Futel).
Na categoria paraolímpica a cidade conta com as modalidades de goalball, atletismo, halterofilismo, vôlei sentado, bocha e judô. Já as aulas de esportes olímpicos que são oferecidas às crianças são atletismo, judô e multiesportes (futsal, handebol e basquete).
No dia da solenidade de entrega do centro a população, dia 23 de agosto de 2018, o diretor técnico do CPB, Alberto Martins da Costa, destacou a importância da parceria que o comitê mantém com a Prefeitura de Uberlândia, por meio da Futel.
“Essa característica de atendimento ao paradesporto é importante para Uberlândia e, principalmente, para o país. Este é um projeto singular, o primeiro do Brasil, porque nós acreditamos no potencial de Uberlândia com o esporte paraolímpico e entendemos que se o projeto der certo aqui, teremos a oportunidade de expandi-lo para outras cidades do nosso país”, contou. Vários dos equipamentos inicialmente instalados foram repassados pelo Comitê ao Município.

As inscrições para as modalidades paralímpicas podem ser feitas gratuitamente no CIE, de segunda à sexta-feira, das 8h às 17h, na própria unidade do centro, que fica na avenida Amsterdã, nº 403, bairro Jardim Europa. Basta levar o documento de identidade, comprovante de residência e escolaridade, além de atestado médico. Para mais informações a comunidade pode ligar no (34) 3224-5013.

Só que antes mesmo de Uberlândia contar com o moderno centro de treinamento, a cidade já foi destaque no vôlei sentado e um de seus atletas já vestiu a camisa verde e amarela.
O Clube Desportivo para Deficientes de Uberlândia e da Universidade Federal de Uberlândia (CDDU/UFU) já foi medalha de ouro no 1º Campeonato Brasileiro da categoria, pela série C. O time também levou os prêmios de melhor levantador, com Luizinho e melhor bloqueio, com Lucas Medeiros. A competição aconteceu em Belém – PA em 2013.
Lucas Medeiros
“Uma das melhores experiências da minha vida”, é como Lucas Silva Medeiros, de 21 anos, descreve ao Globo Esporte a experiência de ter jogado pela seleção brasileira. O para-atleta representou o time B do país no I Torneio Internacional de Vôlei Sentado Masculino, em abril de 2013, ficando em quarto lugar. Nas primeiras posições ficaram a Alemanha com o bronze, Holanda com a prata e a equipe A brasileira com o ouro. A seleção brasileira foi dividida no intuito de fazer com que quatro times competissem no tornei, já que o outro convidado, Estados Unidos
“Nossa! Eu estou muito feliz. Foi muito bom ter participado desse torneio de alto nível, jogar com seleções de outros países, conhecer atletas estrangeiros. Foi uma experiência realmente incrível e eu voltei muito mais motivado para treinar ainda mais”, disse o para-atleta da equipe de vôlei sentado da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) ao GE.

Lucas Medeiros teve que amputar uma das pernas após sofrer um grave acidente de trabalho. O atleta trabalhava como coletor de lixo quando um ônibus colidiu com o caminhão em que estava atingindo ele e outro amigo. Encontrou na natação e no vôlei uma fórmula de superação.
Na época, a universidade contava com um projeto que gerava a inclusão dos deficientes no mundo dos esportes, com subvenção do Ministério do Esporte. A coordenadora do projeto, também treinadora da equipe era a educadora física Junara Paiva, que aponta ao GE os benefícios proporcionados pelas práticas esportivas aos atletas deficientes.
“A gente percebe que o esporte ajuda e apresenta uma melhora física muito grande neles. Nós temos dois atletas que tiveram sequelas de poliomielite e o aumento da força dos membros superiores e tronco é nítido. Até a própria autoestima deles fica elevada com a possibilidade de jogar, de participar de campeonatos, sentindo capazes de realizar algo independente das limitações”
Os treinos aconteciam duas vezes por semana, das 18h30m às 20h30m, no campus Educação Física da UFU.
Festival Nacional Paraolímpico
Dia 22 de setembro é comemorado o dia do atleta paraolímpico e neste ano, para festejar essa data, o Comitê Paraolímpico Brasileiro organizou o maior festival de iniciação paradesportiva da história do país. O evento contou com atividades simultâneas das 8 às 12 horas em cerca de 50 municípios, pelo menos um em cada estado e no Distrito Federal, e com a presença de várias lendas brasileiras que são medalhistas paraolímpicos e mundiais. O intuito era promover a experimentação de várias modalidades às crianças, com três esportes por sede, dar mais visibilidade ao esporte paraolímpico e valorizar as pessoas com deficiência.
"A iniciativa de criar o Festival Paraolímpico visa dar a crianças de todo o Brasil o primeiro contato com o esporte paraolímpico. Estaremos nos 26 Estados e no Distrito Federal, no que será um passo de imensurável importância para a massificação do Movimento. Será uma maneira de celebrarmos nossos maiores ídolos e fomentarmos o esporte em sua iniciação", disse Mizael Conrado, presidente do Comitê Paraolímpico Brasileiro, ex-atleta da Seleção Brasileira de futebol de cegos, melhor do mundo na modalidade em 1998, e bicampeão paraolímpico nos Jogos de Atenas em 2004 e Pequim em 2008, em declaração ao próprio site do comitê.
O evento realmente contou com atletas de peso. A cidade de Donas de Joinville - SC e Palmas - TO tiveram a presença, respectivamente das mineiras Ádria Santos e Terezinha Guilhermina, que juntas cumulam 21 medalhas no atletismo em Jogos Paraolímpicos. Em João Pessoa - PB os paraibanos tiveram a presença de um conterrâneo, Petrúcio Ferreira, atual campeão paraolímpico e recordista mundial nas provas de velocidade. Outro estado que teve uma de suas estrelas no evento foi o Rio de Janeiro muito bem representado pela fluminense Camille que é medalhista parapan-americana em natação. Quem também é destaque nas piscinas mundiais é a mineira Patrícia Santos, que já foi a pódios mundiais e paraolímpicos, e estava presente na sede de Vitória – ES.
Uberlândia também foi uma das cidades que recebeu o megaevento. A sede do triângulo mineiro contou com as seguintes modalidades: bocha, golball e vôlei sentado. As atividades ocorreram na Faculdade de Educação Física e Fisioterapia da Universidade Federal de Uberlândia.
Campeonato Brasileiro

Semana passada, do dia 10 ao dia 14 de dezembro, aconteceu o Campeonato Brasileiro de Vôlei Sentado – Série Ouro no CT Paraolímpico de São Paulo. A competição contou com a participação de 1 equipes que disputaram pelo título de 2018. São elas: Sesi-SP, IPP-PR, ADFPA-PA, CETEFE-DF, IBP-SP, ADFEGO-GO, CRVG-RJ, CIEP-SE, ASSAMA-PR, AADFEPA-PA e APFA-PE.
No domingo antecedente à competição, 9, o Instituto Ética/SP (Corinthians) foi o campeão da Série Prata. Eles conquistaram o título após vencer por 3x0 o Anthares-AL.
A final da competição contou com a transmissão ao vivo feita pelo SporTV, devido a parceria firmada entre o Comitê Paraolímpico Brasileiro (CPB) e o Grupo Globo, através da iniciativa Selo Brasil Paraolímpico, que prevê a transmissão dos eventos paraolímpicos.
A equipe do Sesi-SP venceu o Vasco da Gama-RJ por 3 sets a 2 (parciais 25x18 / 15x25 / 25x13 / 24x26 / 15x11) na grande final e sagrou-se bicampeão.
Melhor Paratleta da Temporada

Também na semana passada, na quarta-feira, 12, o Comitê Paraolímpico premiou os paratletas destaques na temporada 2018, um de cada modalidade, além do atleta da galera.
No vôlei sentado, o escolhido foi o jogador Wescley Oliveira que atua no Vasco da Gama do Rio de Janeiro na posição de meio de rede. O atleta foi vítima de um atropelamento e teve a perna esquerda amputada aos 16 anos. Em 2003, descobriu o vôlei sentado e começou a praticar a modalidade. Este ano, conquistou a medalha de bronze com a Seleção Brasileira no Campeonato Mundial na Holanda, sendo eleito o melhor atleta da competição.
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