O primeiro ídolo a gente nunca esquece
- Na Rede
- 6 de nov. de 2018
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Atualizado: 24 de nov. de 2018
Por: Ítana Santos

Com uma diferença de 45 pontos do segundo colocado, a Seleção Brasileira de Vôlei Masculino é a primeira no ranking da Federação Internacional de Voleibol (FIVB). O último ranking foi divulgado em 7 de julho do ano passado. Além de colecionar vários títulos – Jogos Olímpicos, Campeonato Mundial, Copa Do Mundo, Pan-Americanos – o país também coleciona vários ídolos com prestígio internacional. O primeiro ídolo do voleibol brasileiro veio muito antes do Brasil ser campeão em uma competição ou até mesmo subir no pódio. Antes da explosão desse esporte no país, nossa seleção se resumia em um único grande jogador: Antônio Carlos Moreno.

Moreno nasceu dia 11 de junho de 1948 em Santo André – SP. O ex-jogador se descobriu na modalidade aos 11 anos no Instituto de Educação Dr. Américo Brasiliense, na sua cidade. Logo no ano seguinte, começou a praticar o voleibol de forma competitiva no Clube Atlético Aramaçan, também em Santo André.
O primeiro ídolo do vôlei brasileiro teve uma carreira precoce. Já com 17 anos foi convocado para a seleção e assumiu o posto de titular. Até hoje ninguém foi titular tão novo como ele. Aos 24 anos ele recebe o convite para ser capitão da Seleção Brasileira e ficou até o fim de sua carreira, após os Jogos Olímpicos em Moscou, Rússia. Carrega em seu currículo participação em 4 Jogos Olímpicos, 4 Campeonatos Mundiais, 4 Jogos Pan-Americanos e 7 Campeonatos Sul-Americanos defendendo o nosso país. Foram 21 anos e 366 jogos representando a camisa verde e amarela, dentro e fora das quatro linhas da quadra.

Com o fim de sua carreira como jogador, Moreno assumiu a posição de técnico da seleção, depois alguns times paulistas e equipes de alto nível. Desta forma, contribuiu muito na formação de grandes atletas que se tornaram campeões olímpicos e mundiais. Um deles é Fernando Guimarães, técnico da Seleção Brasileira Paraolímpica, que deu depoimento ao site pessoal de Moreno: "Um jogador que estava vinte anos à frente de sua época. Como técnico, me inspirava, me fazia entender o jogo, mas o mais importante, fazia com que eu me sentisse o melhor levantador do mundo! Jogava minha autoestima e confiança lá em cima. Inúmeros jogos joguei muito mais do que os outros podiam imaginar. Ele sabia do meu potencial e de como extrair o meu melhor! Isso é para poucos! Valeu Big!"
Na época que atuava como treinador, o vôlei brasileiro viveu a chamada Geração da Prata. Essa denominação foi dada a Seleção Brasileira de Voleibol Masculina da década de 80 que conquistou a prata nos Jogos Olímpicos de Los Angeles, a primeira medalha olímpica do país nesse esporte. Para muitos que fizeram parte desse time vice-campeão olímpico Moreno era uma grande referência. Veja o que alguns dos integrantes dessa geração, em entrevista para a UOL Esportes, falam sobre o grande ídolo Antônio Carlos Moreno:
“O Moreno foi uma referência muito importante no voleibol, foi um ícone. Eu comecei a ser convocado para a seleção brasileira em 1978, 1979 e tive minha primeira participação efetiva na Olimpíada de Moscou, em 1980. Ele era o capitão e transmitia para gente toda a seriedade do trabalho, sua rigidez de valores, a importância de fazer a coisa certa. Ele foi muito importante para aquela geração de jovens talentosos que chegava para transformar o voleibol no Brasil. Tínhamos Renan, Xandó, Amauri, Montanaro e outros. O Moreno era um líder. Inclusive ele foi nosso técnico antes do Bebeto (de Freitas) assumir, nos treinou num torneio amistoso no Canadá, após a Olimpíada de Moscou".
Bernardinho, técnico bicampeão olímpico e tricampeão mundial, integrante da geração de prata e companheiro de seleção de 1978 a 1980
"Ele era uma referência não só pra gente no Brasil, mas no mundo, numa época em que o voleibol não tinha repercussão aqui no país. Quando fui para a seleção adulta, a partir de 1978, ele era o capitão. Olha, o Moreno era um mestre dentro e fora das quadras, ajudou muito na formação da geração de prata. Foi meu técnico mais tarde no Banespa. É uma pessoa de muito valor. O cara era a eficiência em carne e osso, tinha muito conteúdo, inteligente demais, abria nossos horizontes, excelente em todos os fundamentos e ainda atacava com os dois braços".
José Montanaro, colega de Moreno na seleção de 1978 a 1980, foi prata no Mundial 1982 e na Olimpíada 1984
Além de todo esse reconhecimento nacional, o ex-jogador também arranca elogios de grandes figuras internacionais. Doug Beal, ex-atleta, ex-técnico dos EUA e ex-diretor executivo da USA Volleyball, também em entrevista à UOL Esportes, diz: “Moreno foi um dos maiores atletas que enfrentei. Ele e o Luiz Eymard foram os melhores brasileiros contra quem joguei. Moreno era extremamente inteligente. Se o Brasil tivesse ganhado alguma medalha nos anos 1970, certamente ele estaria no Hall da Fama, ali é o lugar dele. Um jogador completo”. Outro treinador que se encantou com o ex-jogador foi Yasutaka Matsudaira – escolhido pela FIVB, em 2000, como o melhor técnico de equipes masculinas do século XX – que fez questão de levar Moreno para jogar na liga do Japão duas vezes, em 1972 e 1977.

Sua profissão atual não está muito longe do campo dos esportes. Hoje ele atua como consultor, palestrante e coaching desportivo, transmitindo todo seu conhecimento e vivências adquiridas no desenvolvimento de pessoas e equipes com resultados significativos. Quando ele olha para trás, para toda sua trajetória, sabe bem a quem agradecer e as mudanças que o vôlei causou na sua vida.
“Minha mãe foi guerreira extraordinária, telefonista da Prefeitura, nunca me deixou faltar nada. Obviamente reconheço que muita gente contribuiu para minha carreira, meus treinadores Paulo Rezende, Lázaro de Azevedo Pinto, Valderbi Romani, Richard Nassif, Geraldo Faggiano. Tenho muita gratidão a Newton Brandão, um prefeito muito esportivo, professores da escola de Educação Física. Tive a felicidade de encontrar esposa sensacional, Selma, estamos juntos há 45 anos, seis filhos, todos democraticamente fizeram esporte. Quem não treinava, não comia (risos). Hoje três trabalham com esporte nos Estados Unidos, são treinadores, os outros estão aqui. E o moleque do IAPI... do terraço de onde moro vejo o prédio onde morei. Isso me faz lembrar o quanto é possível. Eu tinha um par de sapatos e com ele ia à escola, jogar bola, à festa. Graças a Deus, muito estudo, trabalho e dedicação, hoje tenho uma ou outra coisa. Quando olho pela janela e vou reclamar de alguma coisa, vejo o prédio 44... Ainda tenho amigos lá.”, em entrevista ao Diário do Grande ABC.

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