Os eSports e a universidade
- Na Rede
- 10 de dez. de 2018
- 8 min de leitura
Atualizado: 1 de mar. de 2021
Por Leonardo Vassoler
Sempre que acontece alguma coisa ruim na vida acadêmica do jovem, as pessoas pensam, “culpa do videogame”, porém isso é um equívoco muitas das vezes. Os esportes eletrônicos que, ao invés de exercitarem o corpo, como futebol, basquete e vôlei, exercitam o cerébro, assim como os estudos e isso muitas vezes um acaba ajudando o outro. Para falar sobre o tema, entrevistamos três universitários: uma estudante de letras-inglês pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e jogadora do jogo eletrônico de futebol Fifa, Ana Cecília Souza, um estudante de Gastronomia pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac) que joga como forma de lazer, Caio Vanique, e um estudante de biologia pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e que também pratica os eSports como passatempo, Eduardo Santos.

Primeiramente, perguntamos para o estudante de gastronomia se realmente os eSports são uma forma de relaxamento para ele. “Com certeza! Desde que não se torne um vício. Durante o meu ensino médio eu jogava praticamente toda noite e isso começou a ficar ruim para mim”, disse Vanique. Em seguida, o estudante de gastronomia comenta sobre o tempo que tem para jogar hoje em dia. “. Na faculdade eu não tenho tanto tempo para jogar, em alguns finais de semana eu consigo jogar, mas é uma forma de dar uma desfocada de tudo, realmente. E para quem gosta, acaba sendo uma diversão”, comenta. Em seguida, Vanique contou um pouco sobre a importância de incentivar os jovens através das competições universitárias. “É totalmente importante! Principalmente que esses jogos eletrônicos, só passaram a ser chamados de eSports, porque existem as competições entre equipes, assim como os esportes que a gente aqui no mundo real”, afirma. “A maioria dos jogos, na verdade acho que todos, te dão a possibilidade de jogar no modo competitivo, no rankeado que deixa ainda mais emocionante”, completa Vanique. Contudo, ele disse que não tem muita paciência para jogar nestes modos porque o jogador sofre muita pressão e acaba tirando o sentido de ser apenas uma forma de lazer dele. “Eu só não subi tanto nesse modo do jogo, porque eu não jogava muito esse modo de jogo, caso contrário acho que eu estaria numa colocação melhor, mas como eu não tenho paciência, acabei não jogando nesse modo muito tempo”, fala Vanique. O estudante de gastronomia disse que os esportes eletrônicos não ajudam a melhorar o raciocínio para o estudos e que as vezes os eSports acabam atrapalhando os estudos. “Na minha vida, durante o ensino médio e a faculdade, o jogo não influenciou em nada, porque eu sempre fui aluno dedicado”, comenta. “Nunca fui mal em nenhuma prova, mas eu acho que não tem relação nenhuma entre os jogos eletrônicos e os estudos em si. Acho que é uma coisa separada da outra”, diz Vanique. O estudante de gastronomia conclui dizendo que na opinião dele, isso pode atrapalhar quem joga muito, porque a pessoa pode acabar se perdendo e se desorganizando em relação aos estudos.
Sobre os esportes eletrônicos serem uma forma de relaxamento, Eduardo Santos acredita que é, sim, uma forma de se distrair da rotina dos estudos. “Eu acho isso, porque assim como outros esportes e outros hobbies que qualquer pessoa pode ter, como alguma atividade artística ou alguma atividade física, é uma maneira de espairecer um pouco da rotina diária”, afirma. Além disso, Santos acredita que por conta das condições que outras atividades, como esportes que estimulam atividade física, necessitam, como a interação com outras pessoas preparadas fisicamente e até um espaço com uma infraestrutura melhor sejam mais difíceis de se conseguir do que um computador, isso acaba facilitanto ainda mais. Segundo o estudante de biologia, ter campeonato que estimulem os jovens a entrarem no mundo dos esportes eletrônicos, não é só necessário para que o cenário dos eSports cresça, é necessário para que as pessoas que não gostam de atividade físicas ou artisticas, que são atividades normalmente incentivadas na sociedade, sintam-se representados através dos eSports. “O incentivo dos esportes eletrônicos é importante para abrangir um número maior de pessoas e mostrar que sempre vai existir alguma coisa que você vá gostar e, dessa maneira, você acaba incentivando o número de pessoas envolvidas no cenário para realmente incentivar os eSport a crescerem e melhorarem”, conta. Segundo ele, os eSports não ajudam a focar mais nos estudos por estimular uma raciocínio lógico. “Na minha opinião, isso atrapalha, porque muitas vezes acaba sendo tirada a atenção dos estudos, assim como qualquer outra atividade de lazer”, diz o estudante de Biologia. Ele acrescenta a isso, a ausência da maturidade, porque as pessoas mais jovens, segundo ele, não têm tanta noção das obigações e sempre escolhendo o que dá prazer e que gosta de fazer, ou seja, acaba não estudando para jogar. “Mas sem dúvida, conforme a pessoa amadurece, isso pode ser trabalhado e pode sim, ajudar a focar um pouco mais, porque é algo demanda muita atenção e foco no momento, como qualquer outra atividade”, completa.
Os eSports, além de serem uma forma de lazer a passatempo, também podem ser vistos como uma forma mais profissional, onde existem atletas e competições, mas Vanique e Santos nunca tiveram vontade de entrar no cenário dos esportes eletrônicos com esse objetivo. “Eu prefiro muito mais assistir um campeonato do que participar de um. Ainda mais que eu não tenho paciência de jogar o modo competitivo ou rankeado, então acho que não seria uma escolha para minha vida”, diz Vanique. “Eu particularmente nunca tive vontade de competir em algum campeonato de eSports, mas só por uma questão de saber que isso não era algo que eu queria levar de maneira competitiva na minha vida”, completa Santos. O estudante de gastronomia justifica a sua indeterminação de entrar na carreira competitiva é pelo fato de ser uma vida com muita pressão, com treinos diários, treinador cobrando, patrocínios, etc. “Até porque essa vida deve ser uma coisa absurda. Eu acompanho bastante o Kami, assisto muito os jogos dele e pelo o que ele fala, é uma vida bem agitada”, afirma o estudante de gastronomia. “Com relação a campeonatos maiores, que é necessário, realmente, ser um atleta de esportes eletrônicos, patrocinado e porfissionalizado, nunca foi uma vontade minha”, diz o estudante de biologia.
Segundo Vanique, não existe um jogo específico para melhorar o raciocínio lógico do jogador. “Cada pessoa tem uma facilidade em alguma coisa. E maioria deles vai acabar ajudando no raciocínio lógico, da agilidade”, afirma. De acordo com ele, cada jogo tem uma forma de estimular o raciocínio diferente. “Porque tem momentos que você está jogando e tem que pensar muito rápido para executar a sua ação. Então você acaba morrendo, perdendo o jogo e isso muito ruim, mas acaba acontecendo em todos os jogos”, completa. O principal jogo que Vanique joga é League Of Legends e ele afirma que muitas vezes o jogo se torna automático, por causa do raciocínio rápido. “Você sente que a partida tem um padrão, você sente que vai aparecer uma pessoa para te matar ali e ai você até recua porque sabe que vai ter alguém ali”, conclui.
Já para Santos, os jogos de estratégia em tempo real são os mais benéficos para o estímulo do raciocínio lógico. “O mais importante para mim, nesse caso, é que esse gênero sempre está expondo o jogador a novos desafios e situações”, diz. Segundo ele quando você joga contra outro jogador, a chance de acontecer a mesma coisa mais de uma vez é muito mínima. “As possibilidade de novos cenários são quase infinitas e isso acaba fazendo com que você sempre evolua e acabe pensando mais e estimulando seu raciocínio lógico”, afirma. Para ele, existem vários jogos importantes nesse gênero, mas dois que se destacam são o Warcraft, da Blizzard e o Age Of Empires, da Ensemble Studios. Sobre os eSports sofrerem um certo preconceito por parte da população mais adulta e ser mais encontrado nas universidades entre os jovens, para o estudante de biologia isso se dá por conta da diferença entre as gerações. “Eu realmente acho que os eSports têm mais visibilidade pelo público jovens. Mas não só pelo preconceito, mas também pelo costume do público mais antigo de considerar esporte só atividade física onde você precisar se movimentar e precisa estar em contato com outras pessoas e o que está dentro do padrão que a gente está acostumado a conhecer”, afirma. Segundo ele o jovem de hoje está mais habituado com o celular e o computador, ou seja, faz mais parte do público jovem e universitário, diferente dos adultos. Pelo fato dos adultos não terem convivido com tamanha tecnologia na infância, muitas vez têm dificuldade de entender que através disso, possa surgir um esporte assim, sendo que o conceito que eles entendiam como esporte foi desconstruído após o advento da internet.
Ana Cecília Souza, estudante de Letras-inglês e atleta de eSports da Universidade Federal de Uberlândia, disse sobre como consegue conciliar o treinamento com os estudos da faculdade. “É realmente um pouco difícil conciliar treino com a universidade, principalmente quando chega um momento que a gente fica cheio de trabalho e prova pra fazer”, diz Souza. Mas segunda ela, sempre existe o um intervalo durante o dia ela tenta jogar para que assim não perca as habilidades e continue treinando para os campeonatos. Diferente de Vanique e Santos, Souza acredita que os eSports ajudam, nem que seja um pouco, no rendimento acadêmico. “Principalmente com a parte do pensamento rápido e estratégia que pede no jogo, que acaba sendo aplicada no dia a dia na universidade”, afirma. Além disso, a estudante de letras diz que isso auxilia não só no rendimento acadêmico, mas também no rendimento de esportes praticados na vida real, como handeboll e vôlei, que são esportes praticados por ela. O início da vida dela em competições de esportes eletrônicos na universidade foi algo bem natural, mas nunca foi o interesse principal de Souza. “Até que fui chamada pela atlética humanas pra jogar as olimpíadas desse ano e gostei muito de participar, aí teve a super copa e jogar nela agora só me deu mais vontade de participar de outras competições”, afirma. Segundo ela para destinguir o momento de seriedade do jogo e o momento de descontração ter vir a partir da noção do jogador. Para Souza, os momentos que ela está jogando para se divertir na casa, funciona como uma porta que vai levá-la para novos campeonatos. “Mas também saber diferenciar a hora de se divertir jogando e a hora que pede um pouco mais de seriedade e atenção, que seria nas competições”, conclui Souza. A jogadora de Fifa diz que, apesar do eSports ter mais abertura pelos jovens, o cenário está crescendo cada vez mais e assim, atraíndo mais público. Dessa forma, está trazendo novas pessoas além dos jovens. “Nos últimos anos só tem crescido cada vez mais e se tornando cada vez mais visível e ganhando seu espaço em outros ambientes”, afirma Souza. Muitas pessoas sofrem por vícios nos jogos eletrônicos e embora a estudante compita pela Atlética da Universidade Federal de Uberlândia, ela mantém-se com o pensamente de que é apenas um passatempo. “Tento colocar na minha cabeça que aquilo, por mais que participe de competições e entendo que tenha profissionais da área, seja meu momento de diversão”, diz. Ela também conta que por mais que ela goste muito de ter o momento dela jogando, ela tenta dosar a quantidade de jogo por dia para não se tornar dependente do jogo e não consiga viver fora dele.
Existem diferentes formas de se praticar eSports dentro da universidade, ou como competidor em uma atlética ou somente como lazer, mas que os eSports têm capacidade de chegar a um patamar bem elevado através das universidades, pelo fato de ser um lugar onde as passam boa parte da vida delas e assim, seja possível passar os eSports de geração para geração de forma que seja um esporte casual e considerado assim por todos.
Comments